Algumas pesquisas apontavam
diferenças anatômicas e na forma como o cérebro processa a linguagem, as
informações, emoções e outras características para conduzir às distinções e
comportamentos de meninas e meninos. Hoje vemos que não é possível afirmar
categoricamente isto. As pesquisas que chegavam as tais conclusões também eram
fortemente viciadas pela separação de gêneros imposta pela sociedade, portanto
seu resultado tendia sempre a distinguir os comportamentos de meninos e
meninas. Atualmente entendemos que Gênero vai alem da formação biológica e
sexual do individuo. Se um menino se comporta “politicamente correto” como
menino é devido aos ensinamentos culturais impostos pela sua sociedade e não
pelo fato de ter nascido sob o sexo masculino, o mesmo ocorrendo com as
meninas.
Nossa sociedade definiu as atribuições e formas de agir entre
meninos e meninas e se tornou uma tarefa difícil a transposição dessas
atribuições. Começamos pelo simples fato das famílias e das próprias crianças muitas
vezes, não quererem a mudança. As famílias criam seus meninos e meninas para
serem “meninos e meninas” por entenderem ser a forma correta de se portarem e
conviver em nossa sociedade. Os meninos ao verem seus pais nas suas
peculiaridades, na grande maioria das vezes querem imitá-los, tal qual as
meninas com suas mães. Essas atitudes não partem biologicamente das crianças,
mas são incentivadas desde cedo, mesmo inconscientemente, de pais, parentes e
outros membros da sociedade.
Quando a criança vem de uma família que não segue a métrica
estabelecida, ela tem uma formação diferente e por conseqüência, valores
diferentes: aí começa o desafio em entender, aceitar e ensinar. Temos
incrustado na nossa sociedade que os diferentes são errados. Se em escolhas de
times de futebol, ideologia partidária, escolha religiosa já é assim, quem dirá
em modo comportamental.
A criança quando ingressa na educação infantil se depara com
um novo mundo, com todas as diferenças possíveis, começa a impor sua própria
bagagem cultural e quando são maioria querem impor suas próprias verdades.
Começam os problemas, intolerâncias e bulling.
O grande desafio é justamente conciliar a bagagem cultural
pré adquirida da criança com a realidade que terá que conviver daquele momento
em diante. Se em um primeiro momento na sua educação, dentro de casa, foi
importante essa rotulação de gênero, a partir do momento em que ela entra no
ambiente escolar, um novo horizonte se
abrirá à sua volta e muitas coisas que eram estranhas e pareciam erradas podem
e devem ganhar status de normal. Isso serve tanto nas famílias ditas
“tradicionais” como nas “alternativas”. Não é possível uma mudança brusca do
modo de viver e pensar em uma sociedade sem que traumas sejam causados. Por
isso que a conscientização na fase da educação infantil é primordial. As
aceitações da formação cultural adquirida juntamente com a introdução das novas
idéias fazem uma junção que poderá levar as gerações futuras a administrarem
cada vez melhor essa lacuna provocada por diferenças tão grandes em modo de
viver que temos hoje em dia.
Há uma
comparação entre comportamentos e habilidades entre meninos e meninas. Existem demarcações de fronteiras onde as meninas se tornam mais meigas e
atentas enquanto os meninos são agitados e espevitados. Na verdade isso é uma
zona de conforto, essa bagagem já vem da casa da criança e é reforçada para um
melhor controle dos alunos no dia a dia. Muitos professores, quando são
questionados pelas alunas sobre essa diferença (afinal muitas também querem ter
a liberdade dos meninos) não sabem o que fazer e nem como contornar certas
situações.
Um menino que quis se fantasiar de noiva, em um primeiro
momento foi recebido com espanto pela professora (até pelo fato da mesma querer
preservar o menino do possível bulling que o mesmo enfrentaria perante seus
colegas de classe), Quando disse que não,
ele escolheu outra fantasia, mas também voltada às meninas.
Uma menina escolheu um tênis com desenhos de monstros e
jogava futebol e, mesmo inconscientemente, eram vistas como masculinizadas e
não eram estimuladas a continuar jogando para não incentivar tal processo.
Algumas crianças riem, outras não... porem depende muito da
idade. Quanto mais erotizada está a fase da criança, mais problemas com as
diferenças ocorrerão.
Como já foi dito, o grande desafio está em entender, ensinar
e romper essas barreiras, mostrando que os que querem se enquadrar nos padrões
socialmente “aceitáveis” são livres para fazerem isso e os que não querem
também são livres para viverem como quiserem. Não deverá haver, de forma
nenhuma, distinção ou vantagem entre um padrão ou outro, não é porque um padrão
vem de mais tempo ou é vivido por mais pessoas, que ele pode se sobrepujar aos
padrões vividos por minorias ou diferentes. Todos somos diferentes, acontece
apenas que em alguns as diferenças podem se tornar mais visíveis.
Nenhum comentário:
Postar um comentário