No papel, o governo diz que a implantação do regime de nove anos ao ensino fundamental seria para ampliar o direito das crianças ao sistema educacional, equiparando seu conteúdo e dando as mesmas condições de ensino aos alunos das escolas particulares. Não se levou em conta que as crianças não estivessem “formadas” ainda ao regime escolar existente hoje. A preparação para a escola é de suma importância e seu papel deveria ficar a cargo da pré-escola, como sempre foi, não enfraquecendo-a e trazendo uma piora no aprendizado das crianças de seis anos.
A não preparação corretadas das escolas à
implementação do nono ano escolar impactou drasticamente nos novos alunos. A
maioria das escolas não estava preparada fisicamente para receber as crianças,
não tinham grade curricular compatível e distribuída corretamente para os nove
anos. Isso fez com que as crianças fossem submetidas a conteúdos incompatíveis com sua real
preparação fazendo com que, principalmente em regiões mais carentes, a medida não
surtisse o efeito desejado, pelo contrario, agindo como meio de afastamento ou
desinteresse das crianças que adentravam às escolas.
Toda mudança na maneira como deve ser
conduzida à educação publica: sua grade, suas metas, meios e modos, precisaria,
necessariamente, passar pelo crivo da base educacional, ou seja, pelos
professores, diretores, pais de alunos e sociedade civil em geral. A
implementação do nono ano letivo foi decidida de “cima para baixo”, onde as
autoridades tinham consciência dos inúmeros problemas existentes tais quais: falta
de vagas, desinteresse, evasão escolar, baixo rendimento, entre outros.
O governo adotou uma medida paliativa,
mexendo com um modelo que, apesar de tudo, ainda funcionava aceitavelmente bem,
que era a pré-escola. Sobrecarregou ainda mais os municípios, fazendo com que
em regiões mais pobres a emenda ficasse pior que o soneto, como diria o poeta português Manuel Maria Barbosa du Bocage.
A implementação
do nono ano veio junto com uma porção de medidas que seriam tomadas, mas como
sempre acontece, nada foi feito. É impossível avaliar o modelo tal qual está
hoje sem as mudanças estruturais, curriculares, formativas e pedagógicas, mas é
possível dizer que foi uma medida que apenas fez parecer que o governo buscou
alguma coisa para melhorar a qualidade do ensino. Efetivamente não mudou nada,
ou piorou na maioria dos casos.
Por
fim, se medidas serias não forem tomadas como: a adequação física dos espaços
com carteiras, cadeiras e mesas confortáveis e adequadas aos tamanhos das
crianças, currículo pedagógico revisto, formação dos professores baseada na
nova realidade, juntamente com os investimentos constantes na educação pré-escolar
preparando as crianças para esse ingresso, hoje precoce, na fase escolar; só não
será perda de tempo e atraso para essa leva de alunos que cursam e cursarão o
ensino fundamental nos próximos anos, devido a heróica batalha diária dos
professores que mesmo com tudo contra, mostram amor a profissão e contribuem
para que a educação brasileira não seja o fracasso total que os governantes
insistem em buscar.
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